2º Trimestre | 2016

Nos informes anteriores tratamos das especificações de manutenção e restauro de obras em bronze e cimento branco, principais materiais utilizados pela artista Felícia Leirner na criação das obras do acervo do Museu Felícia Leirner.

Voltaremos agora a falar sobre os elementos que determinam processos específicos de manutenção de obras de arte expostas ao ar livre, dando ênfase ao trabalho exercido pelo acompanhamento e ação integrada das diversas equipes do Museu Felícia Leirner. A ideia principal é destacarmos a importância do envolvimento de todos os funcionários de uma instituição museal com o objetivo de preservação do patrimônio e demonstrar os ganhos substanciais deste envolvimento. Para tanto, faremos uso de exemplos de situações reais ilustrando com fotografias de nosso próprio acervo.

Já descrevemos anteriormente a presença de uma estagiária para a Área de Acervo, cuja principal função consiste no acompanhamento diário da coleção, com a higienização superficial para a retirada de água empoçada e outros elementos naturais como teias de aranha e pequenos insetos, além do apontamento de danos observados junto à equipe especializada e seu acompanhamento. Além disso, contamos com o olhar cuidadoso das outras equipes: jardineiros, que transitam pelo espaço aberto durante o dia inteiro; educadores, que caminham pelo museu mediando o contato do público com as esculturas; equipe de limpeza, que colabora com a limpeza das alamedas, transitando igualmente pelas áreas expositivas; equipe de edificação, responsável pelo acompanhamento do estado de manutenção de todo o equipamento cultural.

Destacaremos um exemplo do envolvimento de várias equipes para a recuperação de pequenos danos com o intuito de ilustrar a importância desse comportamento no processo de preservação do acervo como um todo.

Acervos expostos a céu aberto estão sujeitos a todo tipo de agentes externos e variações climáticas. Com o elevado índice de chuvas vivenciado ao longo dos últimos tempos, percebeu-se que uma das obras do acervo vinha sofrendo sobremaneira com o respingo de barro em sua base. O acompanhamento mais próximo das equipes de educativo, jardinagem e estagiária de acervo nos fez acreditar que o desgaste da grama ao redor da escultura estivesse provocando este resultado. Sob a orientação da equipe especializada, visando o replantio da grama, a equipe de jardinagem descobriu sob o gramado desgastado uma área cimentada muito maior que a exposta até o momento. Por este motivo, e com o desgaste superficial da camada de proteção orgânica (gramado), a água encontrava dificuldade maior para penetrar no solo, sendo projetada de volta na escultura. Após a descoberta, ainda sob orientação da equipe de restauro do escritório Julio Moraes, procedeu-se com o replantio da grama, deixando agora uma base cimentada maior, o que passou a evitar a frequente necessidade de manutenção e pintura dessa peça do acervo.

Percebemos, portanto, que cada um dos envolvidos pôde contribuir com o seu conhecimento específico na solução do problema identificado. Destacamos assim a importância de mecanismos de diálogo e troca entre equipes, com a valorização dos conhecimentos técnicos e práticos específicos de cada área. Vale lembrar que para manter uma equipe comprometida com o objetivo de preservação do patrimônio museual é necessário lançarmos mão de estratégias de envolvimento, tendo a preocupação de destacar a relevância do protagonismo de cada um a partir de sua própria expertise, do conhecimento do acervo em si e das funções do Museu na sociedade. Para isso, é de suma importância que estejamos certos de que todas as equipes foram devidamente “apresentadas” a estes temas e mantermos mecanismos de motivação que possam envolver as pessoas sempre mais. Como resultado, teremos um acervo observado e cuidado por todos, dando oportunidade para que o público conheça e tenha acesso a uma coleção extremamente bem preservada, assim como imaginado pela própria artista quando do momento de sua criação.