Felícia Leirner

Felícia Leirner nasceu na Polônia em 1904, veio morar no Brasil em 1927 e viveu até 1996. Seu nome polonês de solteira era Fayga Eichenbaum. O marido, Isai, começou a trabalhar no ramo da indústria de tecidos em São Paulo e o casal teve 3 filhos: Giselda, Nelson e Adolfo. Felícia cuidou das tarefas de família antes de se tornar artista plástica.

Acompanhou algumas das aulas de desenho e pintura da filha Giselda até ser apresentada a Elizabeth Nobiling, ceramista e escultora. Interessou-se pela arte da escultura e, em 1948, foi aceita como aprendiz no ateliê do escultor Victor Brecheret (autor do Monumento às Bandeiras instalado no Parque do Ibirapuera).

Participou de 10 Bienais Internacionais de São Paulo, entre 1953 e 1979, e em várias outras exposições coletivas até 1994. Na 7ª Bienal, em 1963, recebeu o prêmio de “melhor escultor brasileiro”, pela série de obras chamadas Cruzes, e teve sala especial nas 8ª, 9ª e 12ª Bienais.

                    

A escultora e o museu

Felícia foi uma escultora modeladora, que pouco utilizou o entalhe. Gostava do barro, da argila entre os dedos. Observou esculturas tribais africanas, antigas estátuas do Egito e aproveitou as bienais de arte de São Paulo para analisar as formas e técnicas de outros escultores.

Criou obras figurativas (que representam seres ou objetos de forma aparente) e obras abstratas (que representam ideias ou diferentes modos de ver as coisas).

Após a morte do marido, Isai, em 1962, Felícia passou a morar em Campos do Jordão. Em 1978, doou ao Governo do Estado de São Paulo, por convite, uma coleção de esculturas de sua autoria para compor um museu junto ao auditório projetado para música de concerto.

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Museu Felícia Leirner
Árvores e montanhas

Felícia realizou a última série de esculturas do museu no próprio local, até 1982, completando 84 obras e finalizando com aquela intitulada Moldura ou Árvore Emoldurada. Depois disso, em São Paulo, produziu esculturas pequenas modeladas em argila e fundidas em bronze.

No museu, as esculturas são de bronze ou de cimento branco sobre armação de ferro e estão dispostas no jardim em 5 agrupamentos ou fases: figurativa, a caminho da abstração, abstrata, orgânica e recortes na paisagem.

Além dessas obras, há esculturas de Felícia Leirner em coleções particulares, museus de outros países e espaços públicos na cidade de São Paulo: Palácio dos Bandeirantes, Parque do Ibirapuera e Praça da Sé.

“Trabalhava com orvalho no rosto até cair em gotas como se fossem lágrimas. Mas o que eu sentia dentro de mim, depois de terminar, era um cansaço e um bem-estar, vendo as esculturas se unindo com as montanhas. Então sabia que minha casa me esperava.

Mudei de lugar. Cidade grande. São Paulo. Janelas grandes, noites azuis, milhares de estrelas e eu só posso querer contá-las sem jamais conseguir. Mas o que eu posso sempre é sonhar, até um dia com as estrelas me fundir e deixar os sonhos para os que gostam de sonhar.”

J. Guinsburg; Sergio Kon (org.). Felícia Leirner. Textos poéticos e aforismos. São Paulo: Ed. Perspectiva, 2014.

Esculturas e técnicas

Escultura é um modo de expressão artística que transfere percepções para materiais em forma tridimensional – 3D, aquela que tem volume (comprimento x altura x largura).

Qualquer técnica de escultura usa materiais específicos e bastante tempo do artista. Há 4 técnicas básicas, nas quais se remove ou se adiciona material a uma primeira forma.

1. Entalhe:
Envolve recortar uma forma de uma massa de pedra, madeira ou plástico, com ferramentas variadas, umas para cortes grossos e outras para os detalhes.

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2. Construção:
Trata de cortar, dobrar e reunir partes, de um ou de vários materiais, para formar um conjunto final.

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Construção Autor anônimo, The Sculpture Park

3. Modelagem:
Implica construir um objeto com um material maleável, como a argila, muitas vezes sobre uma armação de metal. O objeto modelado pode ser único ou pode servir como modelo e ser moldado para reprodução pela técnica da fundição. O molde sobre o modelo pode ser de gesso, areia, até borracha sintética.

modelagem      molde      formatos

4. Fundição:
Compreende derreter metal e colocá-lo dentro de um molde até esfriar e endurecer. O bronze, uma liga dos metais cobre e estanho, é muito usado em arte e pode ser colocado em molde de gesso.

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Esculturas e significados

Uma escultura pode combinar partes sem forma definida com partes geométricas, que parecem cubos, pirâmides, esferas e outras formas exatas. Exige escolhas do artista: que formas usar, tamanho da obra, proporção entre as partes, espaços vazios, cores e texturas.

Não há regras fixas, mas cada escolha, do artista, causa efeitos nos observadores da obra de arte. Por exemplo, uma forma única, alta e com linhas retas provoca uma ideia de altivez, enquanto formas arredondadas, com linhas curvas, lembram movimento.

Observe as esculturas do museu. Repare no que elas lhe fazem pensar ou sentir. Descubra quais são as características das obras que provocam as suas ideias

     

A Floresta

O Museu Felícia Leirner e o Auditório Claudio Santoro guardam um fragmento de floresta com araucárias.

Esse fragmento é uma parte da Mata Atlântica, bioma de florestas úmidas com muitas espécies de plantas e animais vivendo em seus ecossistemas, os quais variam de matas fechadas a campos de altitude.

A área passa por ações de proteção para fazer parte do mosaico de espaços naturais preservados e interligados da Serra da Mantiqueira, importantes para o equilíbrio ambiental e para a biodiversidade.

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Pássaro 1: Saí-azul macho Dacnis cayana Foto IBC e Pássaro 2: Saí-azul fêmea Dacnis cayana Foto IBC

As araucárias

As araucárias são pinheiros com tronco reto, ramos só no topo quando adultas e que podem chegar a 50 metros de altura. Entre elas, há árvores masculinas e árvores femininas.

As inflorescências masculinas são alongadas e as femininas, arredondadas. Essas, chamadas pinhas, são fecundadas pelo pólen das árvores masculinas e formam pinhões.

A araucária é uma espécie exclusiva da Mata Atlântica, só encontrada na Serra da Mantiqueira, no sul do Brasil e em parte da Argentina. Está ameaçada de extinção e precisa ter seus indivíduos e ambientes protegidos e preservados.

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Foto 1: Araucária adulta – com copa em forma de taça Araucária angustifolia. Foto de Sidnei Recco.
Foto 2: Pinha de araucária – pode pesar 4 kg e guardar 150 pinhões. Foto de Deyvid Setti.

E muitas outras plantas

Na área do museu e auditório, além de araucárias e pinheiros-bravos que são típicos de florestas de altitude, há mais de 100 espécies de plantas entre ervas, arbustos e outras árvores.


Carqueja Baccharis trimera Foto Mateus Hidalgo É um arbusto ereto que cresce até 80 centímetros de altura. Os ramos têm extensões e as folhas são bem pequenas. Tem flores masculinas e femininas nas pontas dos ramos.


Brinco-de-princesa Fuchsia regia É um arbusto que chega a ter 3 metros de altura. As folhas denteadas têm nervura central avermelhada e os frutos são pretos, doces, de outono.


Dedaleiro Lafoensia pacari É árvore pequena de cerrado e florestas de altitude. A floração vai de setembro a março e os frutos amadurecem de abril a outubro.

As aves

Nessa área já foram identificadas 92 espécies de aves, sendo que 19 delas vivem apenas no bioma Mata Atlântica. Há gaviões, urubus, pombas, maitacas, beija-flores, pica-paus, bem-te-vis, tangarás, gralhas, andorinhas, cambacicas, saíras, pintassilgos e tantas outras aves.


Beija-flor-de-fronte-violeta – só encontrado em Mata Atlântica Thalurania glaucopis São aves pequenas com asas compridas e bico longo. Alimentam-se com néctar, um líquido doce encontrado em algumas flores, e também comem aranhas e insetos.


Teque-teque Todirostrum poliocephalum Foto IBC Pequenos e muito ágeis, comem insetos que capturam em breves voos. Costumam banhar-se com as gotas de orvalho das folhas.


Quete – só encontrado em Mata Atlântica Poospiza lateralis Foto IBC Têm plumagem colorida e comem partes de flores, frutos, aranhas e insetos. Geralmente, vivem em pequenos grupos de 3 a 5 indivíduos.

Os mamíferos

Nessa área de mata foram registradas 10 espécies de mamíferos, que dividem a região com plantas, anfíbios, répteis, aves e muitos invertebrados: gambá-de-orelha-preta, tamanduá-mirim, gato-do-mato, jaguatirica, suçuarana, quati, veado, esquilo, ouriço e capivara.

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Gambá-de-orelha-preta Didelphis aurita Foto Christian Dockhorn O adulto mede cerca de 70 cm de comprimento e pesa 2 quilos. É animal solitário e noturno. Tem alimentação variada que inclui insetos, cobras, ratos e frutas.

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Jaguatirica Leopardus pardalis O adulto pesa cerca de 10 quilos, com corpo de 80 cm de comprimento. É animal solitário, noturno e carnívoro, que caça ratos, aves e lagartos.

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Serelepe Sciurus ingrami É pequeno, com 20 cm de comprimento no corpo. Come frutos e sementes, incluindo o pinhão da araucária. Anda ou corre em árvores e no chão, carregando algum alimento.

Paisagens e significados

Paisagem é o espaço visto e percebido com seus elementos naturais: o céu, o vento, a temperatura, o relevo, as distâncias, as águas, a vegetação.

Onde há ocupação humana, aparecem também os elementos construídos: caminhos, estradas, pontes, plantações, fábricas, lojas, casas e… esculturas!

O ambiente vai além da paisagem. Envolve as relações entre todos os elementos e forma o suporte físico e social da existência dos seres vivos.

As pessoas e outros animais percebem a organização de uma paisagem. Ao lado disso, cada um cria seus significados, que podem ser variados: refúgio, busca, grandeza, mistério, tranquilidade, alegria e tantos outros.

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Foto 2: Tomas Furtado.
Foto 3: Rodrigo Soldon.