1º Trimestre | 2016

No último “Notícias de Acervo”, lançado no quarto trimestre de 2015, tratamos de discutir questões pertinentes a manutenção das obras de cimento do nosso acervo que, exposto ao ar livre, sofre a ação ininterrupta de agentes de deterioração e merece acompanhamento constante, visando a inibição desses processos e a correção eficaz de possíveis ocorrências de manutenção.

Falaremos agora sobre os processos de manutenção das esculturas de bronze, focando na realidade específica do Museu Felícia Leirner, que é a de exposição permanente das obras à céu aberto. Interagindo constantemente com estas obras, destacamos os agentes que influenciam diretamente em seu estado de conservação, como intempéries, deterioração biológica e dos materiais componentes.

O acúmulo de água e sujidades (poeira, resíduos vegetais, etc.) em partes específicas das obras requer a higienização constante com o propósito de minimizar os impactos na pátina, como manchas ou a sua eliminação parcial ou total. Outro aspecto de atenção que está diretamente ligado à exposição das obras em área externa é a movimentação do solo e o consequente abalo das bases das esculturas, causada por erosão ou crescimento de raízes de árvores. A presença de insetos e pequenos animais também ameaça a integridade da obra, agredindo a pátina do bronze, pois pressupõe a presença constante de resíduos como dejeções, ovos e casulos. Não se deve esquecer que, no caso do bronze, a oxidação da estrutura também influencia nas características da obra, além de acidentes físicos e químicos que podem ocorrer a qualquer momento e que deverão ser estudados em cada uma de suas especificidades.

O acompanhamento das obras da coleção do Museu Felícia Leirner é feito diariamente por uma estagiária de Acervo, que retira a água e as sujidades acumuladas superficialmente, bem como identifica e notifica possíveis agressões à pátina, minimizando seus efeitos. A equipe de conservadores restauradores realiza periodicamente a limpeza com hidrojateamento de pressão controlada e recupera a pátina com a aplicação de cera pigmentada e camada protetiva capaz de evitar agressões mais superficiais. Ao repor ou intervir em uma pátina é necessário estudar materiais e técnicas que não causem nenhum tipo de alteração na obra futuramente, mantendo-a estável e utilizando produtos próximos daqueles utilizados na obra originalmente. As bases de alvenaria recebem tratamento com aplicação de fungicida, evitando a proliferação de microrganismos e, eventualmente, são restauradas com a substituição parcial da alvenaria e camada de concreto.

Destacamos que, ao falarmos de conservação e restauro, além dos aspectos constituintes da obra e das condições de sua exposição, é necessário levarmos em conta aspectos históricos e sociais desde a sua criação até o presente momento, objetivando a realização de intervenções apropriadas, tanto em relação ao seu histórico (intervenções anteriores, por exemplo), quanto em relação às projeções futuras. Desta forma, conservação e restauro devem estar conectados com todas as demais áreas do Museu, compreendendo uma parte teórica importante e ações práticas apropriadas para a realidade específica em que a obra se encontra inserida.

Para concluir, lembramos que as ações de conservação e restauro da coleção de esculturas do Museu Felícia Leirner estão contempladas dentro de uma perspectiva continuada, evitando assim desgastes e danos mais profundos das estruturas. Ainda que as obras de bronze estejam menos suscetíveis à ação das intempéries, a manutenção frequente do seu estado de conservação garante a sua durabilidade à longo prazo, reafirmando o compromisso do Museu de preservação do legado artístico de Felícia Leirner, bem como de sua exibição e divulgação. Vale lembrar que a atitude consciente do público na interação com as abras contribui sobremaneira para a sua preservação, minimizando a necessidade de intervenções e a própria degradação do patrimônio.