1º QUADRIMESTRE Ir para o conteúdo

              O Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa, Museu Felícia Leirner, Auditório Claudio Santoro e ACAM Portinari, informam:

BOLETIM 32 Campos do Jordão | Abril | 2023

O MUSEU FELÍCIA LEIRNER ENQUANTO ESPAÇO DE DISCUSSÃO E DIFUSÃO PARA A HISTORIOGRAFIA DA ARTE BRASILEIRA

“A relação entre mulheres e a criação artística na cultura ocidental: é a hipervisibilidade da mulher como objeto de representação e sua invisibilidade persistente como sujeito criador.”

Patrícia Mayayo

Você já parou para pensar em quantos museus do Estado de São Paulo levam o nome de uma artista mulher?

 A historiografia da arte ocidental sempre deixou as mulheres artistas à margem dos cânones dos movimentos artísticos, sobretudo das vanguardas modernas europeias do século XX. Os livros clássicos que se tornaram “manuais” sobre a história da arte ocidental contribuíram para esse apagamento histórico das mulheres artistas. O Brasil talvez seja um dos únicos países onde uma mulher é considerada o “mártir” do Modernismo, como é o caso de Anita Malfatti e a crítica de sua exposição de 1917. Nos anos 30, essa configuração se modifica um pouco, principalmente para as mulheres pintoras que estiveram cada vez mais presentes dentro das academias e das galerias de arte e, consequentemente, mais bem viabilizadas nas colunas de críticas dos grandes jornais. Ainda que as possibilidades de estudo artístico às mulheres tenham se tornado bastante frequente, vale ressaltar que somente cerca de 20% do acervo dos principais Museus de Arte do Estado de São Paulo são constituídos por obras de artistas mulheres. E segundo o catalogo do IBRAM de 2011, há em torno de 15 museus no Estado de São Paulo nomeados com o nome de uma mulher. Para se ter uma ideia, no Estado existem mais de 500 museus registrados, ou seja, apenas 3% correspondem a essa nomeação. Tendo em vista essa responsabilidade social, cultural e educacional relacionada a essas temáticas de gênero, raça, classe e diversidade, o Museu Felícia Leirner se insere nessa perspectiva.

A documentação publicada sobre Felícia Leirner, muitas vezes, não reitera a contribuição das mulheres que foram cruciais em sua vida profissional. A artista polonesa foi aluna de Yolanda Mohalyi e de Elisabeth Nobling, e se consolidou diante de um círculo artístico muito bem estruturado que abrangeu muitas mulheres artistas, sobretudo mulheres imigrantes, mas só é ressaltado o seu aprendizado com o escultor Victor Brecheret.  Assim, um dos pilares de grande relevância do Museu Felícia Leirner é a reinterpretação de seu acervo museológico e a mediação deste com o público, pautado pela perspectiva dos estudos sociais, políticos e culturais da questão de gênero.

 As ações do Núcleo Educativo são essenciais para que se estabeleça essa conexão entre Museu e espectador, a fim de proporcionar um pensamento emancipador. Por meio de visitas educativas, das oficinas e do curso para professores, é possível trabalhar uma concepção educacional artística, histórica, sociológica, de forma crítica, didática e muito bem embasada. Pensando sempre na sociabilidade que o espaço deve exercer dentro da comunidade em que está inserido.

Um exemplo dessas ações foram as oficinas: “A influência de uma época e a fanzine” ligadas a comemoração do centenário da Semana da Arte Moderna de São Paulo que contou com as obras e participação de artistas mulheres como Anita Malfatti, Zina Aita e Guiomar Novaes. O Museu Felícia Leirner e Auditório Cláudio Santoro recebem visitantes bastante distintos, desde público espontâneo, professores, alunos da rede pública e privada a estudantes de pós-doutorado. Considerando-se que a cada ano a visitação ao Museu Felícia Leirner é mais expressiva, é sempre importante que a instituição preze em ser referência de pesquisa e espaço de discussão.

REFERÊNCIAS

ACAYBA Cíntia, FIGUEIREDO Patrícia. Artistas mulheres representam cerca de 20% dos acervos do Masp e Pinacoteca. G1 Globo, São Paulo, 31 de mar. 2022. Disponível em: <https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2022/03/31/artistas-mulheres representam-cerca-de-20percent-dos-acervos-do-masp-e-pinacoteca-dificil-apagar-exclusao-do-passado-diz-especialista.ghtml>. Acesso em: 21 de jan. 2023.

ARGAN, Giulio Carlo. Arte Moderna. 1770/1970. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.

MAYAYO, Patrícia. Historias de Mujeres, Historias del arte. Madrid: Ensayos Arte Cátedra, 2003.

MORAIS, Frederico. Felícia Leirner: a arte como missão/ Frederico Moraes – Campos do Jordão, SP: Museu Felícia Leirner, 1991.

MUSEU FELÍCIA LEIRNER E AUDITÓRIO CLAUDIO SANTORO. Plano Museológico. ACAM Portinari: Campos do Jordão, 2021.

MUSEU FELÍCIA LEIRNER E AUDITÓRIO CLAUDIO SANTORO. Programa Educativo e Cultural. ACAM Portinari: Campos do Jordão, 2021.

SIMIONI, Ana Paula Cavalcanti. Mulheres Modernistas: Estratégias de Consagração na

Arte Brasileira. São Paulo: Edusp, 2022.

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